Musculação, uma visão integrada.
- Carla Luchiari
- 4 de ago. de 2022
- 7 min de leitura

Começo deixando claro que não sou especialista nessa área da musculação e condicionamento físico, mesmo assim me sinto à vontade para falar sobre o assunto e não apenas por ser uma profissional da área saúde, com atuação na educação e reabilitação do corpo, mas por ter muita experiência com atividades esportivas ao longo da minha vida.
Comecei a praticar musculação com 14, 15 anos, na época era atleta de natação e meu técnico orientou a equipe a iniciar este processo com o intuito de melhorar a performance.
Segui à risca o treino de musculação, tudo o que era passado e programado era feito, 2x por semana musculação e, de segunda a sexta, treinos na piscina.
Nesse período de mais ou menos 1 ou 2 anos ganhei muita massa muscular e força, meu corpo mudou muito a ponto de algumas pessoas, que ficaram um tempo sem me ver, não me reconhecerem. Aliás, nem eu mesma! Ao ver uma foto da nossa equipe de atletas levei tempo para me achar e, quando finalmente me localizei levei um susto: eu realmente estava muito diferente!
Claro que também tinha relação com o período de crescimento, mas no meu caso, nesta idade, já tinha atingido a minha altura máxima de 1,53 m.
O que estava diferente não era a minha altura, mas minha densidade e largura. Observação importante: minha massa gorda estava dentro dos padrões de normalidade para atletas, eu não estava acima do meu peso, era nítido o aumento de massa magra.
O mais interessante e triste também é que a "promessa" da melhora da performance não se concretizou. Para piorar ainda mais a situação, meus tempos feitos no início dos 14 anos (antes de começar a prática de musculação) eram bem melhores!
Eu era velocista, nadava provas curtas de 50m livre, 100m borboleta e peito e, até os 14 anos estava em crescente evolução, batendo meus próprios recordes.
Porém, não conseguia mais evoluir e pior, os tempos das minhas principais provas pioram muito, aumentando cerca de 3, 4 e 5 segundos!
Para quem entende de natação sabe o quanto isso é bem ruim.
Hoje consigo pontuar que os meus melhores tempos aconteceram antes da prática de musculação.
Eu lembro que me sentia pesada e densa, tinha perdido as minhas melhores características: a potência e a velocidade.
Eu não entendia o que estava acontecendo e não tinha recursos para conversar a respeito disso com ninguém, nem mesmo com o meu técnico.
Na minha concepção da época, a única coisa que eu poderia fazer era treinar e isso eu já fazia com dedicação extrema.
Não evoluir é uma coisa, porém piorar a performance em segundos era demais!
Depois de mais um período de treinos e sem sequer estar perto do meu melhor tempo (feito com 14 anos), desisti da natação no final dos meus 17 anos, um pouco antes de entrar para a faculdade de fisioterapia.
Na minha cabeça, algo tinha dado muito errado e não conseguia mais lidar com tamanha frustração.
Abandonar algo que se gosta muito, ou melhor ama, e se dedica com a alma é muito dolorido e de difícil superação.
Passei anos da minha vida sem querer nadar e com uma sensação muito ruim de fracasso e com o questionamento: O que aconteceu?
Por que minha performance só foi piorando se eu estava seguindo tudo o que os profissionais da época me orientavam?
Fiquei 25 anos com esta perturbação e dúvida, mas nesse último mês tive um insight!!!
Atualmente faço musculação 2x por semana com objetivos claros de ter mais disponibilidade corporal para os meus esportes que exigem potência, velocidade, agilidade e força.
Queixei algumas vezes para o meu personal que me sentia forte, porém PESADA (mais uma vez, não estou acima do meu peso, minha porcentagem de massa gorda está dentro da faixa para atletas).
Com a evolução do treino de musculação e a prioridade em estimular a velocidade e potência, sinto que algo novo aconteceu dentro de mim!
Comecei a me sentir mais leve, notei isso nas minhas práticas esportivas (natação, surf, tênis e aulas de dança).
Falando com meu personal, comentei que tenho a sensação de que, quando estou nadando, meu corpo está afundando menos, me sinto mais na superfície da água e até o som que água faz nos meus ouvidos é diferente!
Nessa conversa ele me explicou que o ganho da força propulsora de membros inferiores e superiores me deixam mais à superfície da água, diminuindo o tempo do corpo submergir em relação ao antes. Ele também explicou que essa sensação seria esperada, pois os treinos foram desenvolvidos com esse objetivo.
Essa resposta me fez muito sentido e, é claro, que isso são as minhas percepções, mas elas me bastam atualmente.
VOLTANDO AO MEU INSIGHT!!!
Na década de 90, quando era atleta e fazia musculação para melhorar a performance, ganhei muito peso de massa muscular, o que me deixou mais pesada e lenta dentro da água.
Ganhei força, mas não era uma força que me ajudava nas minhas provas de velocidade.
Hoje consigo notar que aquele treino pode ter me atrapalhado muito.
E mais, em outra conversa rápida com meu personal, chegamos à conclusão de que na época, muito provavelmente, o trabalho foi feito de maneira incompleta, faltando a lapidação para o ganho de velocidade.
Um ponto muito importante a se considerar é que a maioria dos atletas tiveram melhora na evolução, mas eu não!
E porque?
Acredito que essa resposta se deve provavelmente por eu estar fora de um padrão da média.
Imagino, um biotipo como o meu, de pequena estatura (1,53m) e facilidade em ganhar músculos, fez com que eu tivesse um resultado inapropriado para a meta.
E convenhamos, na década de 90, os estudos em relação à performance de atletas estava engatinhando, pelo menos de onde eu vim!
Passei 25 anos me questionando sobre este acontecimento, óbvio que não pensava nisso todos os dias, mas é como se uma janela estivesse sempre aberta dentro do meu cérebro procurando por uma resposta.
A falta de resposta durante esses anos me fez, com certeza, ter um gasto energético a mais, como se um disco ficasse rodando constantemente e inconscientemente na busca da compreensão do fato.
Então, eu posso dizer que neste novo processo que vivencio de treinamento, não tenho dúvidas que o meu corpo encontrou a resposta.
Sinto tão forte isso dentro de mim que aquela janela aberta finalmente se fechou, aquele disco rodando também parou e uma sensação de calma, paz e tranquilidade me preencheu. É uma compreensão celular e não só da minha mente! Chega a ser difícil explicar!
Ao meu personal eu agradeço por me ajudar a solucionar algo que nem eu imaginava que me ocupava tanto. Seu trabalho é uma POTENTE ferramenta, pois os benefícios vão além do fortalecimento, condicionamento, melhora da performance e etc.
Reflexões:
O que eu reforcei e levo mais ainda para a minha vida profissional é a grande importância de respeitar a individualidade.
Outro ponto, entender a individualidade fará a grande diferença entre abafar o potencial e o talento ou fazer com que este potencial se expanda.
Em um trabalho com o corpo, seja ele qual for, isso serve principalmente para os profissionais da saúde, para se ter sucesso no caso são questões fundamentais: escutar o que o indivíduo traz e observar, além dos seus recursos técnicos.
A observação é muito importante, pois muitas vezes o indivíduo ainda não tem as palavras exatas para conseguir expressar suas queixas ou até mesmo seus reais objetivos.
Outra reflexão importante é o profissional estar constantemente em investigação sobre o caso, fazendo perguntas mesmo que o indivíduo não ache que ajuda no contexto. Cada detalhe é importante!
Outra coisa que aprendi, mesmo que uma atividade seja indicada, neste caso não falo somente da musculação, o mais importante não é o que se faz, e sim como se faz, bem como qual a estratégia será aplicada para que o potencial daquele indivíduo se sobressaia.
Por muitos anos eu tive resistência para voltar a treinar musculação, claramente tinha dentro de mim que não tinha sido uma boa experiência.
Mas este novo processo de treinamento me abriu novos horizontes, me fez enxergar para além.
Uma atividade desenvolvida, pensada minuciosa e criteriosamente nas minhas queixas, nos meus objetivos e no meu biotipo vêm trazendo resultados até então inatingidos.
Isso me faz reforçar um pensamento que levo para a minha profissão, muitas vezes não importa o método que se usa para um paciente, aluno, cliente, mas sim a leitura que se faz dele e quais são seus objetivos.
Não basta apenas as formações de qualidade do profissional, mas também a capacidade de implementar todas as suas ferramentas de acordo com a avaliação feita.
Conclusões:
Independentemente da sua busca por tratamentos ou treinamentos, sejam para dores, para emagrecer, para melhorar a performance, procure por profissionais com competência, experiência e que saibam ouvir!
É a sua história que constrói a elaboração da estratégia de tratamento ou treinamento para o seu caso e isso, com certeza, terá muito mais chance de sucesso.
Somos seres integrados e seus treinamentos ou tratamentos devem levar isso em consideração.
Ressalto, ainda, que questões emocionais estão sempre envolvidas, você acreditando ou não.
Considerações finais:
Às vezes nossas buscas têm razões mais profundas do que imaginamos. Isso mostra mais uma vez a importância de uma escuta atenta das queixas e histórias dos meus clientes.
Por trás de uma queixa pode haver questões escondidas que o próprio indivíduo não tem consciência. A queixa é a ponta do iceberg!!
Aos profissionais da saúde o que eu posso dizer é: nossas ações e tratamentos têm repercussões profundas e os resultados vão para além daquele que o indivíduo busca e daquilo que imaginamos. O campo é vasto.
ATENÇÃO!
Saber ouvir é uma característica tão importante quanto a qualidade técnica do profissional.
REFLEXÃO!
SERÁ que você tem alguma janela aberta na qual você desperdiça a sua energia sem perceber?
IMPORTANTE!
Por trás de uma dor no joelho, uma hérnia de disco, capsulite adesiva, falta de força, depressão, ansiedade e etc pode haver janelas abertas!
Leve a sério os seus treinos ou tratamentos!!
Pois existe uma chance de te trazer benefícios que podem mudar completamente a sua vida para melhor!
SOMOS SERES INTEGRADOS E COMPLEXOS!
ME CONTA AQUI, JÁ PASSOU POR ALGUMA SITUAÇÃO MUITO FRUSTRANTE QUE LEVOU ANOS PARA SUPERAR?
Buscou algum profissional para te ajudar?
Uma coisa é fato, nossas emoções abafadas nos custam muito caro!
Adoecemos silenciosamente por isso!
Este texto, MUSCULAÇÃO, UMA VISÃO INTEGRADA, mostra que qualquer atividade pode ser capaz de ter essa visão, porém depende da CAPACITAÇÃO HUMANA do profissional, além, claro, da capacitação técnica.
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