Afinal, o que é uma boa postura?
- Carla Luchiari
- 8 de jun. de 2022
- 5 min de leitura

Pergunta complexa e muita ampla, existem várias definições sobre o que é ter uma boa POSTURA, uma delas é a capacidade de adotar diversas posições ao longo das atividades diárias com o mínimo gasto energético possível.
Mas, pessoalmente, gosto mais da seguinte definição: uma boa POSTURA está ligada diretamente com a capacidade de negociação constante com a gravidade.
O corpo deve ter a competência para a maior variabilidade adaptativa.
Com essas definições fica claro que postura é algo dinâmico, mesmo "parado" vivemos em constante movimento, muitas vezes são micromovimentos, ou seja, podem não ser visíveis.
O grande segredo de uma boa postura é receber a gravidade em nosso corpo e reagir a ela.
A gravidade dá um estímulo e o corpo deve responder com ganhos de espaços, organizando as peças ósseas e os bons encaixes articulares.
Um corpo com "espaços" e peças ósseas bem encaixadas favorecem um corpo apto para movimentos, uma marcha e respiração livre e de qualidade. Neste contexto, é um corpo harmônico no qual o movimento flui (raríssimo de se ver...rs).
Posso dizer também que ter uma boa postura é sinônimo de ter uma boa respiração (acontece de forma tridimensional, do abdômen à parte mais superior do tórax, tudo deve se inflar na inspiração e na expiração desinflar, a parte anterior do tronco, as laterais e posterior estão envolvidas nesse ato, o diafragma sobe e desce livremente devido a sua característica elástica).
O diafragma é um músculo que tem fixações na coluna cervical, torácica, lombar e nas costelas, assim, a cada ciclo respiratório seu movimento repercute diretamente na coluna, provocando um movimento de "mola" na coluna (alonga na inspiração e se achata na expiração), ao mesmo tempo que ele faz um bombeo nas vísceras abdominais, favorecendo o funcionamento digestório, cardio pulmonar, circulatório e de drenagem linfática.
Um ponto curioso é que esse movimento de "mola" da coluna favorece a lubrificação das articulações, entre as vértebras e equaliza a distribuição das tensões e forças recebidas, dando mais resistência, maior capacidade adaptativa e mobilidade à coluna.
Um ponto muito importante é que o diafragma é um músculo respiratório com múltiplas funções, dentre elas a função postural. Ele tem a serventia de organização e de estruturação do corpo. A VERTICALIDADE é também de responsabilidade dele.
Uma boa postura é possível quando o ar entra e sai livremente, sem travas, sem esforço, para isto acontecer toda a passagem de ar deve estar liberada, as articulações envolvidas direta ou indiretamente devem estar com a mobilidade preservada.
A respiração deve iniciar pelo nariz, o ar passa pela garganta e chega nos pulmões.
Simples, não é!?
Porém, muitas coisas atrapalham e bloqueiam esse processo, trazendo prejuízos à postura, aos movimentos e até mesmo à marcha (diafragma bloqueado influencia de forma negativa o jeito de andar).
Exemplo de algumas situações que prejudicam a respiração:
- adenoide inflamada e ou hipertrofia da adenoide;
- desvio de septo;
- respiração bucal;
- bruxismo;
- apertamento;
- extração de dente;
- falta de mobilidade das costelas, da coluna, do quadril e do tornozelo;
- situações muito recorrentes de estresse crônico, ansiedade e depressão e etc.
Essa lista é longa, consta aqui apenas algumas. Pode-se concluir que respiração ineficiente causa uma postura ineficiente e o contrário também será verdadeiro. Postura e respiração prejudicadas influenciam a qualidade de execução dos movimentos.
Alerta!Pais fiquem atentos à respiração dos seus filhos!
Respiração bucal é muito prejudicial a todo o desenvolvimento dos ossos da face e músculos da fala e da deglutição. A respiração bucal pode estar associada a uma oxigenação ruim, trazendo prejuízos no desenvolvimento cognitivo e no comportamento.
Muitas vezes é difícil detectar esse déficit de oxigenação, mas sinais como sonolência, dificuldade de concentração na escola e agitação podem ser um indício, a criança pode ter uma característica de desatenção e, na pior das hipóteses, pode até mesmo ser confundida com transtornos de déficit de atenção.
Uma boa postura está ligada com a liberdade articular, a maleabilidade miofascial e a capacidade de sustentação das estruturas do corpo.
Ao ficar em pé a sustentação se dá 70% devido ao tecido conjuntivo e 30% devido aos músculos (tecido conjuntivo neste caso me refiro às fáscias, tecido que recobre músculos, vísceras, nervos, vasos sanguíneos e o cérebro).
A fáscia dá um formato ao corpo, ela pode ser remodelada independente da idade, mas é necessário um estímulo correto e constante.
Desta forma, melhorar a postura é uma questão de treino apropriado.
A verdadeira mudança postural é possível com um treinamento ou tratamento neste tecido conectivo chamado fáscia. A fáscia faz a união do corpo, tornando-o uma unidade.
Assim, um trabalho postural é globalizado.
Um trabalho isolado em fortalecimento e alongamento muscular não trará mudanças significativas em relação à postura (fácil de entender, já que a manutenção da postura é feita 70% por tecido conjuntivo e somente 30% por músculos).
Uma boa postura depende do bom funcionamento do diafragma, alinhamentos e bons encaixes articulares e, principalmente, do estado de saúde da fáscia. É também graças à fáscia que ficamos em pé e nos movimentamos.
Os músculos fazem um start do movimento, isso gera vetores de forças que percorrem as fáscias distribuindo e equilibrando as tensões, convidando e recrutando uma sequência de músculos para participarem de um único gesto motor (também há um controle do sistema nervoso central, mas não vou me aprofundar sobre isso).
Então, uma boa postura exige uma fáscia com sua característica viscoelástica preservada, isto é sinônimo de fáscia saudável.
A fáscia é constituída de uma grande porcentagem de água, colágeno e elastina o que garante esta característica viscosa e elástica. Isso permite a faculdade mecânica de sustentação, de transmissão e dissipação da força. Para essas propriedades dá-se o nome de tensegridade (tensão e compressão equilibrada).
A postura e a fáscia reagem e se modelam de acordo com o estilo de vida, o jeito como usamos o corpo, os traumas físicos e emocionais vão ficando todos gravados nesse grande órgão (fáscia é considerada o maior órgão do corpo). Ao longo do tempo a postura pode estar extremamente prejudicada.
Uma má postura é um TERRENO FÉRTIL PARA UMA VARIEDADE ENORME DE PATOLOGIAS.
Uma postura com baixa possibilidade de adaptação é sinal de que a fáscia perdeu em alguns pontos a sua característica viscoelástica e com ela, a tensigridade (particularidade de tensão e compressão equilibrada) estando o sujeito propenso a lesões, processos inflamatórios e dores!!
Essas lesões e inflamações surgem geralmente quando se faz mais o uso do corpo.
Típica história que ouço no consultório: "Eu estava ótimo, mas agachei para pegar um objeto no chão e travei".
Ou o indivíduo começa a praticar uma atividade que nunca fez e desenvolve algumas dores e tendinites (muito clássico). Isso só mostra que o corpo já está com uma baixa capacidade adaptativa, ou seja, a negociação constante com a gravidade está debilitada e "emburrecida" (o corpo passa por um processo de desaprendizado).
Ter uma boa postura é estar atento e não tenso.
Cuidar da POSTURA é cuidar de si, sinal de amor próprio, é se dar a oportunidade de ter qualidade de vida e longevidade saudável.
Uma boa postura deixa seu corpo apto a situações adversas e uma vida mais fluida.
Resumindo para você!
Uma boa postura depende de vários fatores:
- mobilidade articular;
- respiração livre (função diafragmática);
- bons encaixes articulares;
- fáscia com característica viscoelástica preservada (tensegridade);
- conhecer o próprio corpo para saber usá-lo a seu favor, usufruindo de toda a sua potencialidade;
- saber lidar com as dificuldades da vida, não deixando que as emoções sufoquem o seu corpo.
Me conte, você dá atenção a sua POSTURA?
Faz algo no seu dia a dia para aperfeiçoá-la?
Saiba, melhorar a POSTURA é também aprimorar seu estado FÍSICO, MENTAL e EMOCIONAL.
É favorecer a sua evolução!
Eu disse que era uma assunto complexo!
Texto por:
Carla Luchiari
Fisioterapeuta Osteopata
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